Vênus é o planeta que possui a órbita mais próxima à da Terra. Nem sempre ele está ao lado da Lua, mas esses dois corpos podem ser vistos juntos com alguma frequência por quem costuma observar o céu.
Como Vênus está mais perto do Sol que a gente, o período que ele leva para dar uma volta ao redor da estrela é menor que o nosso: "Um ano de Vênus dura apenas 225 dias, então, seu movimento no céu, quando observado da Terra, repete-se mais rapidamente que o dos outros planetas", explica o astrônomo Othon Winter, do grupo de dinâmica orbital e planetologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Guaratinguetá.
"O Sol, a Lua e os planetas do Sistema Solar sempre aparecem no céu terrestre numa faixa específica chamada eclíptica, onde se encontram as 12 constelações do zodíaco e mais a constelação do Ofiúco (que deveria ser o 13° signo)", detalha o professor de física Dulcidio Braz Jr, autor do blog Física na Veia!. Ou seja: nunca é possível observar um planeta fora dessa faixa, como, por exemplo, perto do Cruzeiro do Sul, uma constelação típica do Hemisfério Sul.
"Vez ou outra esses astros podem estar em conjunção, ou seja, quase alinhados com a Terra. Vistos por nós (especialmente a olho nu, situação em que não temos como estimar as distâncias reais dos mesmos), eles parecem estar próximos no céu", complementa. Um exemplo recente, registrado em junho, foi o "encontro" entre Vênus e Júpiter.
O físico também conta que a órbita interna de Vênus é semelhante à da Terra, o que faz nosso vizinho apresentar fases: "Vênus pode nos mostrar a sua face totalmente iluminada (como uma Lua Cheia) ou em fases de iluminação parcial, como a Lua Crescente ou Minguante". O fenômeno inclusive foi descrito por Galileu Galilei em 1609.
Estrela Dalva
Vale lembrar que Vênus, o segundo planeta do Sistema Solar, está sempre visualmente perto do Sol, assim como Mercúrio, o primeiro e mais próximo da nossa estrela-mãe. Por isso, Vênus e Mercúrio sempre serão vistos assim que o Sol se põe ou antes que ele nasce: "Quando o Sol está acima do horizonte do observador, seu brilho intenso ofusca a nossa visão de Mercúrio e Vênus", justifica o professor.
A característica descrita acima é o que faz Vênus ser conhecido popularmente como Estrela Dalva (do alvorecer). Mas por que "estrela"? Bem, é que todos os planetas do Sistema Solar, a olho nu, têm aparência de um ponto brilhante - por não ter luz própria, eles refletem a luz solar, conforme explicam Braz Jr e Winter.
Só quem observa o céu há bastante tempo e tem familiaridade com os astros sabe distinguir um planeta de uma estrela. "Se observarmos o céu por um período maior, por vários dias seguidos e preferencialmente por meses, notaremos que os pontinhos que são planetas viajam sobre o fundo fixo de estrelas", descreve o autor do Física na Veia!, lembrando que não conseguimos perceber o movimento das estrelas daqui da Terra porque elas estão muito distantes. Quem conhece bem os planetas sabe, por exemplo, que Marte é um pontinho bem alaranjado.
O blogueiro ainda comenta que, dentro da eclíptica, os planetas podem passear sobre as estrelas em movimentos que são verdadeiras laçadas aparentes no céu. Astrônomos antigos já observavam esse fenômeno - o termo "planeta", aliás, significa "astro errante", justamente por causa desse movimento diferente desses astros sobre o fundo fixo de estrelas.
Só ao observar os planetas com uma luneta ou um telescópio é que podemos identificar um pequeno círculo ao invés de um ponto com aspecto de estrela. "A única estrela que vemos como uma esfera é o nosso Sol porque está bem perto de nós (cerca de 150 milhões de quilômetros, o que astronomicamente é logo ali)", relata Dulcidio. Já Alfa Centauro, a estrela mais próxima da Terra depois do Sol, a 4,2 anos-luz daqui, será vista sempre como um ponto luminoso, independente da observação ser a olho nu ou com instrumentos de pequeno, médio ou grande porte.
Outros planetas
A olho nu, podemos ver cinco planetas do Sistema Solar: Mercúrio, Vênus (sempre ao entardecer ou amanhecer), Marte, Júpiter e Saturno (em qualquer horário durante o período sem a luz do Sol, dependendo da data). "Vemos exatamente os planetas mais perto do Sol e, portanto, mais próximos da Terra", diz o físico.
Com telescópios, mesmo de pequeno porte, podemos ver todos os planetas do Sistema Solar. Mas Urano e Netuno, apesar de gigantes gasosos, são de difícil observação porque estão muito mais distantes que os demais planetas.
"Plutão, que nem é mais classificado como planeta, é muito distante e minúsculo. Só pode ser visto com telescópios poderosos e, mesmo assim, será uma minúscula esfera sem graça", completa o professor. Não é à toa que a missão New Horizons, da Nasa (agência espacial norte-americana) gerou tanta expectativa entre os astrônomos.
Quer ver?
Quando Vênus está mais perto da Terra, ocasião em que apresenta fases parecidas com a Lua Crescente ou Minguante, o planeta fica sempre muito brilhante e pode ser visto até mesmo com o céu ainda escurecendo ou clareando, de acordo com Dulcidio. "Basta procurar um pouco acima do horizonte oeste, onde o Sol acabou de se esconder (se for no entardecer), ou pouco acima do horizonte leste, onde o Sol vai nascer em breve (se for ao amanhecer)", ensina.
Para aprender a olhar o céu e reconhecer os astros, distinguindo planetas de estrelas, é possível contar com a ajuda de vários aplicativos para smartphones, tablets e computadores. "Você tem que simular o céu na telinha e, com paciência, comparar o céu simulado com o céu verdadeiro, até ir adquirindo prática e familiaridade com o firmamento", avisa Dulcidio. É preciso ter persistência, como um astrônomo de verdade. Mas ele garante que vale a pena
O professor e blogueiro diz que usa bastante o Stellarium, planetário para desktop, open source e freeware, que roda várias plataformas, incluindo Windows e Mac. "Tem excelente qualidade gráfica e, embora não seja profissional, tem aceitável precisão nas simulações e ajuda bastante a entender o céu e o movimento aparente dos astros. Dá para rodar o software acelerando o tempo para entender em poucos minutos o que acontece no céu em dias e até anos. Também dá para ir para frente e para trás no tempo."
Braz Jr só faz uma advertência para quem vai começar a se aventurar na observação do céu: "Cuidado com o Sol!" Mesmo a olho nu é preciso utilizar um filtro específico. Tentar a proeza com instrumentos ópticos leva é cegueira na certa.